14 de junho de 2013

Sábados Semanais e Anuais


A maior parte dos ataques contra a lei de Deus são em decorrência do sábado descrito no quarto mandamento, e essa colossal aversão é completamente injustificável. A desinformação, acompanhada em alguns casos de atitudes egocêntricas e fanatismo religioso, promove as inúmeras polêmicas criadas em torno da observância sabática. Na realidade, a maioria não teve a devida orientação sobre a origem e o propósito do sábado(a), algo similar ao ocorrido com o oficial etíope (Atos 8:30-31). Outros, embora tenham a oportunidade de conhecer as questões sobre o sábado, preferem evitá-las ao máximo, pois isso acarretaria mudanças "desconfortáveis" em suas vidas; em essência não estão dispostos a seguir algo que lhes privem de suas satisfações pessoais.

Distinções sabáticas
O desconhecimento deste tema é tão acentuado que muitos se surpreendem com a existência de outros sábados que diferem daquele descrito na lei de Deus. Os sábados listados na Bíblia apresentam significativas diferenças que impossibilitam qualquer confusão ao classificá-los. Por exemplo, o sábado citado pelo quarto mandamento distingui-se por:
  1. Ter sido instituído após o término da criação, numa época em que não havia pecado no mundo;
  2. Exigir santificação no sétimo dia de cada semana para exclusiva consagração à Deus, sem a necessidade de liturgias mosaicas;
  3. Possuir natureza moral e estar incluído na lei de Deus, reunido entre mandamentos estritamente de princípios morais;
  4. Ser destinado a toda humanidade, independentemente de tempo e lugar.1
Enquanto os sábados presentes na lei mosaica e vinculados às festividades da antiga aliança caracterizam-se por:
  1. Terem sido estabelecidos no monte Sinai, numa época em que o pecado se fazia presente no mundo;
  2. Exigirem santificação uma vez por ano para consagração à Deus com: ofertas de agradecimentos; holocaustos por causa do pecado; libações e etc.;
  3. Possuírem natureza cerimonial e estarem incluídos na lei de Moisés, em conjunto com várias espécies de ordenanças(b);
  4. Terem sido destinados aos israelitas e, dependerem de circunstâncias temporais e geográficas(c).2
Existe ainda um terceiro tipo de sábado destinado à terra. Este sábado, que sucedia a cada sete anos, tinha o propósito de amparar os necessitados com a produção do "sétimo ano" e beneficiar a terra semelhantemente ao que ocorre atualmente nos intervalos entre plantios (Êxodo 23:10-11 cf. Levítico 25:1-7).

E ao contrário do pensamento popular, a observância sabática instituída no Éden não é um assunto restrito ao Velho Testamento, ensinos ao seu respeito são encontrados também no Novo Testamento(d). E, em ambos os casos, Deus declara pessoalmente que o sábado semanal é de Sua propriedade:
"Cada um respeitará a sua mãe e o seu pai e guardará os Meus sábados. Eu sou o Senhor, vosso Deus." (Levítico 19:3 RA); "Guardareis os Meus sábados e reverenciareis o Meu santuário. Eu sou o Senhor." (Levítico 19:30 RA); "Porque assim diz o Senhor: 'Aos eunucos que guardam os Meus sábados, escolhem aquilo que Me agrada e abraçam a Minha aliança'." (Isaías 56:4 RA); "Também lhes dei os Meus sábados, para servirem de sinal entre Mim e eles, para que soubessem que Eu sou o Senhor que os santifica." (Ezequiel 20:12 RA); "Mas o sétimo dia é o sábado do Senhor, teu Deus. (...)" (Êxodo 20:10 RA).
Outras referências a essa propriedade sabática estão em Mateus 12:8 e Marcos 2:28. Nestes versos, Cristo rebate as acusações dos fariseus de que Ele e Seus discípulos eram transgressores do quarto mandamento, ensina os seus verdadeiros objetivos e concluiu dizendo que Ele é Senhor do sábado.

Em relação aos sábados anuais, conhecidos também como sábados cerimoniais, Deus os considerou pertencentes ao povo de Israel.3 Esta nação possuía diversos dias de festas ao longo do ano, entre os quais haviam àqueles determinados como sábados. Esses dias festivos ocorriam em datas fixas e, devido a dinâmica do calendário de cada ano, eram celebrados em diferentes dias da semana (Levítico 23:4; II Crônicas 8:12-13). Quando um sábado anual (sábado cerimonial) coincidia em ser celebrado no sétimo dia da semana (sábado semanal), ele era definido como um grande sábado (cf. João 19:31). E esses dias de festas estabelecidos como sabáticos eram:
1.º Sábado Cerimonial. Pães Asmos (Início) - 15.º dia do mês de Nissan (Levítico 23:6-8).
2.º Sábado Cerimonial. Pães Asmos (Término) - 21.º dia do mês de Nissan.
3.º Sábado Cerimonial. Primícias - 06.º dia do mês de Sivan (Levítico 23:15-21).
4.º Sábado Cerimonial. Trombetas - 01.º dia do mês de Tishrei (Levítico 23:23-25).
5.º Sábado Cerimonial. Expiação - 10.º dia do mês de Tishrei (Levítico 23:26-32).
6.º Sábado Cerimonial. Tabernáculos (Início) - 15.º dia do mês de Tishrei (Levítico 23:33-36).
7.º Sábado Cerimonial. Tabernáculos (Término) - 21.º dia do mês de Tishrei.
A respeito destes sábados, a Bíblia esclarece:
"São estas as festas fixas do Senhor, que proclamareis para santas convocações, para oferecer ao Senhor oferta queimada, holocausto e oferta de manjares, sacrifício e libações, cada qual em seu dia próprio, além dos sábados do Senhor, e das vossas dádivas, e de todos os vossos votos, e de todas as vossas ofertas voluntárias que dareis ao Senhor." (Levítico 23:37-38). "Estas coisas oferecereis ao Senhor nas vossas festas fixas (...) (Números 29:39).
Esses dias festivos eram chamados de sábados porque as atividades do cotidiano cessavam e o povo se reunia solenemente em adoração à Deus, assim como ocorre com o sábado semanal do quarto mandamento. Porém, o sábado presente no Decálogo centraliza-se em celebrar as obras da criação, a vida originada e mantida por Deus; e não exige o envolvimento de oferta queimada, holocausto, oferendas de manjares, libações, entre outros procedimentos estabelecidos para serem seguidos nos sábados anuais (cerimoniais).

"Sombra das coisas que haviam de vir"
"Ninguém, pois, vos julgue por causa de comida e bebida, ou dia de festa, ou lua nova, ou sábados, porque tudo isso tem sido sombra das coisas que haviam de vir; porém o corpo é de Cristo." (Colossenses 2:16-17 RA).
Esses versos são comumente deturpados para apoiar a teoria de que o sábado semanal esta incluído entre os sábados cerimoniais e que seria também "sombra" (simbologia) de Cristo. A distorcida interpretação dessa teoria forçosamente afirma que Deus Pai descansou simbolicamente em Cristo, pois, o relato da criação diz claramente que Deus descansou no sábado semanal: "E abençoou Deus o dia sétimo e o santificou; porque nele descansou de toda a obra que, como Criador, fizera."4 - Este é um dos erros absurdos que o homem pecaminoso se envolve ao vale-se de conjecturas para se esquivar sorrateiramente do quarto mandamento.

Os versos de Colossenses 2:16-17 demonstram algo completamente oposto à referida teoria ao destacar uma das principais diferenças entre os sábados semanais e cerimoniais. O sábado referente ao sétimo dia da semana não representa "coisas que haviam de vir" porque está vinculado a um acontecimento do passado, a criação. As obras desempenhadas por Cristo em favor da salvação da humanidade eram "as coisas que haviam de vir", e foram simbolizadas pelas cerimônias da antiga aliança(e). As liturgias praticadas em cada sábado cerimonial, especialmente as sacrificais, transmitiam os eventos proféticos que foram cumpridos pela missão redentora de Jesus Cristo.

Deve-se observar também que Paulo não condenou ou proibiu festividades, luas novas e sábados cerimoniais destinados para os judeus(f). Embora os sábados cerimoniais representem a Cristo e Seus atos de salvação, eles continuam vinculados a História do povo de Israel, pois:
Festa dos Pães Asmos recorda a boa vontade e prontidão de Deus em libertá-los do Egito (Êxodo 12:33-39; Deuteronômio 16:3-4);
Festa das Primícias (festas das Semanas) indicava o encerramento do período da colheita e fixava a mente dos israelitas na dependência que eles tinham de Deus (Deuteronômio 16:9-10);
Festa das Trombetas marca o início do ano civil judaico e lembra-os dos acontecimentos do ano que se encerra (Levítico 23:24);
Festa dos Tabernáculos (festa das Cabanas) recordava o tempo em que o povo de Israel viveu quarenta anos em tendas (cabanas) durante a sua jornada pelo deserto (Levítico 23:42-43).
Diante destes fatos e baseados no contexto de Colossenses capítulo 2, nota-se claramente que Paulo (judeu e profundo conhecedor da lei de Moisés, Atos 22:3 cf. Filipenses 3:6), não estava ensinando que os sábados cerimoniais eram impróprios, e tampouco que foram totalmente anulados para os judeus. Mas, ensinou que o significado messiânico que eles continham foi realizado (cumprido), porque "estas coisas são sombras do que haveria de vir; a realidade, porém, encontra-se em Cristo." (Colossenses 2:17 NVI).

Paulo orientou os cristãos da igreja de Colossos a não admitir a prática de tradições de homens que deturpavam essas coisas e os ensinos de Cristo: "Tenham cuidado para que ninguém os escravize a filosofias vãs e enganosas, que se fundamentam nas tradições humanas e nos princípios elementares deste mundo, e não em Cristo." (Colossenses 2:8-9 NVI). Ora, os critérios alimentares, dias de festas, luas novas e sábados não são coisas criadas pelo homem e muito menos são enganosas ou baseadas em princípios deste mundo, elas foram instituídas por Deus e proporcionam benefícios, de modo algum promovem a escravidão e o engano.

Os colossenses não eram obrigados a seguir as ordenanças da lei de Moisés direcionadas aos judeus(g), e tampouco aceitar ensinos perniciosos que anulavam o evangelho (Colossenses 2:18-23). Eles foram orientados ainda, a não permitir que os indivíduos que disseminavam estas coisas os julgassem ("ninguém, pois, vos julgue", Colossenses 2:16).

"Cessarei os seus sábados"
"Farei cessar todo o seu gozo, as suas festas de Lua Nova, os seus sábados e todas as suas solenidades." (Oséias 2:11 RA).
Este é outro verso bíblico retirado de seu contexto e associado ao falso ensino de que o sábado semanal foi anulado. O capítulo 2 do livro de Oséias em momento algum transmiti ou mesmo insinua, que o sábado presente no Decálogo seria ab-rogado. Este capítulo discorre sobre: a idolatria dos israelitas e a repreensão que receberam(h); o afastamento de Deus, deixando-os a mercê de suas escolhas pecaminosas (versos 2-13); e, sobre a misericórdia que lhes foi concedida novamente (verso 14-23).

O verso de Oséias 2:3 ao relatar: "Para que Eu não a deixe despida, e a ponha como no dia em que nasceu (...)" (RA), refere-se a condição que o povo de Israel foi submetido quando era escravo no Egito, e voltaria a essa situação caso não abandonasse os seus pecados; retornaria ao seu anterior estado de carência, debilidade e abandono. A decadência dos israelitas tinha atingido um nível tão deprimente, que afirmavam que as bênçãos concedidas por Deus, provinham de Baal (Oséias 2:5 e 8). Então, Deus retirou a Sua proteção e os demais benefícios que eram concedidos e, consequentemente, eles foram conduzidos cativos pelos assírios (Oséias 2:9; II Reis 17:21-23). E os "amantes" (as nações) com os quais Israel se corrompeu não puderam ajudar (Oséias 2:7).

Em sua nova realidade, o povo de Israel não teve condições de celebrar as festas de Lua Nova, os sábados cerimoniais, e outras festividades solenes. Na verdade, antes do cativeiro, os israelitas estavam apenas seguindo por formalidade e superstição essas celebrações, enquanto as contaminavam com suas práticas abomináveis (II Reis 17:7-20 cf. Isaías 1:10-17). Encontravam-se afastados de Deus e em vão exerciam as cerimônias descritas na lei. Eles conheciam os procedimentos litúrgicos, no entanto, desconheciam os seus objetivos.

Posteriormente, Deus despertou a nação de Israel para os Seus caminhos (Oséias 2:14); os resgatou do cativeiro, restabeleceu Seus antigos propósitos, os auxiliou a restaurar suas plantações e, proporcionou novamente segurança em sua terra (Oséias 2:15-18). Assim, retornaram a celebrar "as suas festas de Lua Nova, os seus sábados e todas as suas solenidades", porém, sem as antigas atitudes que os conduzira a ruína. E, na época de Jesus, e após o Seu retorno ao Céu, estas comemorações de Israel são relatadas como sendo praticadas.5 Portanto, não existe nenhuma profecia em Oséias capítulo 2 anunciando o fim do sábado pertencente ao Decálogo, tampouco há algo nesse sentido no restante das Escrituras. Essa fictícia insinuação é apenas mais uma inútil e desesperada investida contra o santo dia do Deus Criador (Isaías 58:13-14).


c. Os sábados cerimoniais dependiam de um lugar específico para que as suas respectivas liturgias fossem exercidas. Esse lugar era o santuário e seus arredores (Êxodo 25:1-9 cf Deuteronômio 16:13-15), posteriormente esse santuário foi substituído pelos templos, como aquele construído por Salomão (I Reis 6:38). Essa exigência não ocorre com o sábado semanal, que é santificado sem a necessidade dos rituais mosaicos e de um santuário ou templo, permitindo deste modo a sua aplicabilidade universal (Levítico 23:3; Atos 16:13).
f. Apesar das festas sabáticas terem sido destinadas para os judeus, havia a possibilidade dos gentios participarem delas (Levítico 24:22; Números 15:15-16).
h. Esta mensagem de repreensão e advertência foi destinada ao reino do norte (reino de Judá) entre 723-722 a.C., havendo posteriormente a primeira invasão e prisão do povo pelos assírios.
1. Gênesis 2:1-3; Hebreus 4:4; Êxodo 20:8-11; Marcos 2:27-28 cf. Isaías 56:1-7; Neemias 13:15-18 cf. Isaías 58:13-14.
2. Levítico 23:37-38 cf. Levítico 7:37-38, Neemias 9:13-14; Ezequiel 45:16-17.
3. Levítico 23:32; Isaías 1:13-14; Lamentações 2:6; Oséias 2:11.
4. Gênesis 2:1-3; Êxodo 20:11 cf. João 1:1-3, Hebreus 4:4.
5. Zacarias 14:18-19; Marcos 14:12; João 2:13; João 5:1; João 7:2; João 10:22; Atos 2:1; Atos 12:4; Atos 20:16.