14 de junho de 2013

A Lei de Deus aos Romanos - II


"Pois em Deus não há parcialidade. Todo aquele que pecar sem a lei, sem a lei também perecerá, e todo aquele que pecar sob a lei, pela lei será julgado. Porque não são os que ouvem a lei que são justos aos olhos de Deus; mas os que obedecem à lei, estes serão declarados justos. De fato, quando os gentios, que não têm a lei, praticam naturalmente o que ela ordena, tornam-se lei para si mesmos, embora não possuam a lei; pois mostram que as exigências da lei estão gravadas em seu coração. Disso dão testemunho também a sua consciência e os pensamentos deles, ora acusando-os, ora defendendo-os." (Romanos 2:11-16 NVI).
Imparcialidade divina
Deus não concederá privilégio a nenhum pecador durante o Seu julgamento. Haverá perfeita imparcialidade em cada litígio, cada caso será considerado em sua singularidade.1 Não importa a qual etnia, tribo e nação o indivíduo pertença; sua condição social, se ele é judeu ou gentio, todos serão julgados por suas obras e estas serão examinadas pelos princípios da lei.2
 
Paulo ao caracterizar o juízo, denunciou os judeus que desenvolveram com o tempo, a crença de que Deus fazia acepção de pessoas devido a eleição(a) deles como os Seus representantes e por ter livrado-os do perigo em várias ocasiões. Eles acreditavam ainda, que podiam condenar os crimes de outras nações enquanto a própria nação de Israel realizava as mesmas transgressões (Jeremias 7:8-10; Ezequiel 22:7-8 e 26); eles mantinham um conhecimento teórico e uma obediência formal da lei, e associaram este comportamento a salvação (cf. Atos 15:1).3 Enquanto eles conduziam suas vidas nessas circunstâncias, existiam não-judeus que eram zelosos pelos princípios da lei (Romanos 2:25-29). Os judeus tinham a lei como o centro da vida religiosa e Jesus condenou essa atitude. Ele tentou encaminhá-los naquilo que Deus realmente exigia, mas recusaram;4 e comportamento oposto era observado nos gentios a medida que recebiam o evangelho.5
 
Fé e obras avaliadas no tribunal celestial
No juízo, as obras realizadas em verdadeira obediência aos princípios da lei auxiliam o pecador arrependido a provar que foi submisso a vontade de Deus (Romanos 2:13; Ezequiel 33:12-16); elas ajudam a comprovar se a depositada em Cristo foi realmente sincera: "Assim também a fé, por si só, se não for acompanhada de obras, está morta. Mas alguém dirá: 'Você tem fé; eu tenho obras.' Mostre-me a sua fé sem obras, e eu lhe mostrarei a minha fé pelas obras." (Tiago 2:17-18 NIV). Enquanto a fé em Jesus conduz à graça de Deus (ao perdão), as obras realizadas em harmonia com a lei revelam se o pecador abandonou sua antiga vida pecaminosa, se verdadeiramente aceitou a exigência: "Vai e não peques mais." (João 8:11 cf. I João 3:4). E Tiago colabora com esse ensino fazendo o seguinte alerta:
"Porquanto, Aquele que disse: 'Não adulterarás', também ordenou: 'Não matarás'. Ora, se não adulteras, porém matas, vens a ser transgressor da lei. Falai de tal maneira e de tal maneira procedei como aqueles que hão de ser julgados pela lei da liberdade." (Tiago 2:11-12 RA cf. Tiago 1:25, Êxodo 20:3-17).
Paulo comparou duas situações que são avaliadas no juízo: daqueles que conhecem a vontade de Deus mas não estão dispostos a obedecê-la, com aqueles que não somente conhecem a vontade de Deus mas Lhe rendem obediência sincera. E esta obediência desenvolve-se unicamente com a fé alicerçada no amor (Mateus 22:36-40; Romanos 13:8-10), requisito que muitos judeus não desenvolveram (Mateus 23:23; Gálatas 5:6; I Timóteo 1:5). O verso de Romanos 2:13 destaca que os homens são julgados não pelo que pretendem conhecer ou professam ser, mas, pelo que fazem. No juízo celestial são analisados os reais motivos que conduziram as atitudes de cada indivíduo (Romanos 2:5-8; Hebreus 4:12-13).
 
A prática natural da lei
Deus avalia cada indivíduo de acordo com as oportunidades que teve de conhecer e desenvolver sua obediência à lei. Paulo especifica que os judeus são avaliados pelo conhecimento da lei que obtiveram diretamente de manuscritos (a lei na sua forma escrita), e que deveriam ter repassado as demais nações. Os gentios são analisados pelo conhecimento da lei presente na consciência (a lei na sua forma não escrita, Romanos 2:14-15). Contudo, ambos os grupos são conduzidos ao julgamento independente da forma que conheceram a vontade de Deus, pois todos possuem pecados e estão sob condenação (Romanos 3:9-12); e não existe justificativa para os seus erros:
"Portanto, a ira de Deus é revelada dos céus contra toda impiedade e injustiça dos homens que suprimem a verdade pela injustiça, pois o que de Deus se pode conhecer é manifesto entre eles, porque Deus lhes manifestou. Pois desde a criação do mundo os atributos invisíveis de Deus, Seu eterno poder e Sua natureza divina, têm sido vistos claramente, sendo compreendidos por meio das coisas criadas, de forma que tais homens são indesculpáveis; porque, tendo conhecido a Deus, não o glorificaram como Deus, nem lhe renderam graças, mas os seus pensamentos tornaram-se fúteis e o coração insensato deles obscureceu-se." (Romanos 1:18-21 NVI cf. Gênesis 6:5-6).
O salmista Davi confirma estas palavras dizendo: "Visto que não consideram os feitos do Senhor, nem as obras de Suas mãos, Ele os arrasará e jamais os deixará reerguer-se." (Salmos 28:5 NVI cf. Salmos 19:1, Isaías 5:11-12).
 
A expressão, "sem lei" em Romanos 2:12, refere-se àqueles que não tiveram a lei revelada na sua forma escrita mas a tinham implantada na consciência (praticaram naturalmente o que a lei ordena, Romanos 2:14). O Espírito Santo, com o auxílio das obras de Deus, nunca deixou a consciência do homem totalmente a mercê de sua pecaminosidade, Ele sempre procurou direcionar os seus pensamentos aos princípios da lei (Isaías 30:21; João 14:25-26; Romanos 8:5-9). E assim como na antiga aliança ela foi consolidada na "mente e coração" daqueles que aceitaram obedecer a Deus, isso ocorre na nova aliança:
"Porque esta é a aliança que firmarei com a casa de Israel, depois daqueles dias, diz o Senhor: na sua mente imprimirei as Minhas leis, também sobre o seu coração as inscreverei; e Eu serei o seu Deus, e eles serão o Meu povo. E não ensinará jamais cada um ao seu próximo, nem cada um ao seu irmão, dizendo: Conhece ao Senhor; porque todos Me conhecerão, desde o menor deles até ao maior." (Hebreus 8:10-11 RA cf. Jeremias 31:31-34, Isaías 8:16).
"O Espírito Santo também nos testifica a este respeito. Primeiro Ele diz: 'Esta é a aliança que farei com eles, depois daqueles dias, diz o Senhor. Porei as Minhas leis em seu coração e as escreverei em sua mente'; e acrescenta: 'Dos seus pecados e iniquidades não Me lembrarei mais'. (...) aproximemo-nos, com sincero coração, em plena certeza de fé, tendo o coração purificado de má consciência (...)" (Hebreus 10:15-22 RA cf. I Timóteo 4:1-2).
O julgamento de Deus avalia as ocasiões, os esclarecimento, as revelações, enfim, cada ajuda concedida ao pecador e os respectivos resultados desenvolvidos. E "mesmo que você diga: 'Não sabíamos o que estava acontecendo!' Não o perceberia Aquele que pesa os corações? Não o saberia Aquele que preserva a sua vida? Não retribuirá Ele a cada um segundo o seu procedimento?" (Provérbios 24:12 NVI cf. Hebreus 4:12-13).
 
Os gentios que reconheceram a revelação de Deus nas obras da criação e responderam ao impulso divinamente implantado de fazer o bem, fizeram "por natureza" as coisas contidas na lei(b) (cf. Romanos 2:29). E Paulo refere-se especificamente a lei Moral(c) que retém exclusivamente os Dez Mandamentos, pois era impossível aos gentios cumprir "por natureza" as várias regras e cerimônias determinadas na lei de Moisés(d); porém, podiam cumprir "por natureza", com o auxílio do Espírito Santo, os princípios contidos nos mandamentos da lei de Deus (Decálogo).
 
"A cada um segundo as suas obras"
Os que tiveram o privilégio de conhecer a lei de Deus em sua totalidade (através de manuscritos, na sua forma escrita) e, no entanto, pecaram espontaneamente contra uma expressão tão clara da vontade de Deus, devem receber um castigo maior em relação àqueles que tiveram menos instrução. A severidade do castigo é proporcional a culpa, e o nível da culpa corresponde às oportunidades. Não deve haver confusão entre a imparcialidade no julgamento com os diferentes níveis de punição.6
 
O juízo de Deus sobrevirá a todos e devidamente regulamentado pela Sua lei, mas o rigor punitivo de maior intensidade recairá sobre aqueles que escolheram transgredi-la mesmo sendo conhecedores de seus ensinos. Ambos os grupos de pecadores impenitentes (judeus e gentios) serão condenados e perecerão por seus pecados não confessados e não perdoados (Romanos 6:23; I João 2:1-4; Isaías 8:20). Pois pecado sempre foi e sempre será a transgressão da lei de Deus, independente de qualquer condição apresentada.7 A misericórdia descrita em Tiago 2:13 não será exercida nestes casos, mas naqueles onde a fé em Jesus se fez presente e o pecador verdadeiramente se arrependeu e buscou segui-Lo.
 
Isso pode ser exemplificado através da atitude do jovem rico que conhecia a lei mas não praticava seus ensinos e preferiu recusar o convite de Jesus, o que consequentemente impossibilitou-o de obedecer a lei e anulou a misericórdia que o livraria da punição pelos seus pecados (Mateus 19:16-22). Exemplo oposto encontra-se no comportamento do ex-criminoso crucificado ao lado de Jesus; independente dos motivos que o conduzira a estar ali, ele reconheceu sua condição pecaminosa, se arrependeu e decidiu a partir daquele momento não abandonar a Cristo; sua fé, firme e santa, tinha um único objetivo, ter a Jesus como Mestre e Salvador (Lucas 23:35-43). Neste caso, a misericórdia de Deus se fez presente, "a graça transbordou" para salvar aquele pecador sinceramente arrependido (Romanos 5:20-21; II Coríntios 7:10).
 
Considerações Finais
O homem tem a capacidade de julgar seus pensamentos, palavras e ações. No entanto, a consciência desprovida da orientação divina pode ser demasiadamente vacilante (I Coríntios 8:7), ou pode estar "cauterizada" no erro por ter sido submetida a intensos conceitos e praticas maléficas (I Timóteo 4:2); ou, inversamente, pode está esclarecida por um conhecimento amplo da verdade (II Coríntios 1:12), e atua de acordo com a luz que recebeu. Esses fatos são os que realmente revelam o caráter. Paulo esclarece que a atuação da consciência dos gentios era uma evidência de que eles tinham algum conceito da vontade de Deus expressa em Sua lei (Romanos 2:14-15), apesar de não terem tido as oportunidades de conhecê-la como os judeus tiveram (Romanos 2:17-18).
 
Deus tem um registro exato de cada ato explícito ou secreto do pecador (Daniel 7:9-10; I Coríntios 4:5; Apocalipse 20:12); portanto Ele pode julgar sem fazer acepção de pessoas. O principal ensino de Romanos capítulo 2 está no verso 16. Ele apresenta o judeu favorecido com a revelação da lei, e que se sentia inclinado a menosprezar ao gentio, julgando-o indigno de salvação. Mas unicamente Deus, que pode ler o íntimo da vida, anunciará o veredito.
 
A disposição guiada pelo amor, a prontidão para obedecer a Deus mediante a consciência orientada pelo Espírito Santo (cf. João 14:26, Hebreus 10:15-16), são coisas que só Deus pode conhecer plenamente. As coisas essenciais que realmente constituem a observância da lei são as qualidades de caráter que Deus espera de judeus e gentios, e no juízo são rigorosamente avaliadas(e).
 

a. Esta eleição (escolha) não foi imposta pois os israelitas na ocasião tiveram a opção de negá-la (Êxodo 19:1-8).
1. Deuteronômio 10:17-18; II Crônicas 19:7; Jó 34:10-19; Romanos 3:28-31.
2. Eclesiastes 12:13-14; Isaías 24:4-6; Mateus 16:27; Tiago 2:8-13.
3. Isaías 1:4; Ezequiel 22:7-8 e 26; Daniel 9:11; Romanos 2:1-3; Romanos 2:17-24.
4. João 5:39-45 cf. Isaías 53:1-3; Jeremias 6:16, Romanos 9:30-33.
5. Atos 10:45-47; Atos 11:1; Atos 13:46-48; Atos 15:3.
6. Ezequiel 5:27; Mateus 11:21-24; Mateus 12:41-42; Lucas 12:45-48.
7. Isaías 24:4-6; I João 3:4; Romanos 5:12-13; Romanos 7:7.